Eva RapDiva lançou no último fim de semana o seu primeiro álbum de originais intitulado Eva, uma homenagem à sua avó que tem o mesmo nome.
Tinha alguma curiosidade em saber como o álbum estava, primeiro pelas músicas promocionais lançadas e segundo por saber que Vui Vui estava na direcção artística do mesmo. Não houve quem ficou indiferente com a música “Um Assobio Meu” com participação de Gari Sinedima, composição 5 estrelas acompanhado de um vídeo da mesma qualidade. Mas antes de abanarmos todos a cabeça em tom de aprovação, o público rap esteve em alerta em relação a este álbum, é que a primeira música promocional foi uma kizomba, “Final Feliz” é um hit nas pistas de dança e eu até hoje não sei se devia ficar feliz ou triste com isso. Feliz pelo sucesso da música, triste porque a música é tão boa que parecia que teríamos um “álbum de rap cheio de kizombas”. Com este mix de sonoridade, não se sabia ao certo o que esperar do primeiro álbum de Eva.
Para quem ouviu a mixtape “Rainha Ginga do Rap” certamente irá notar inúmeras diferenças comparativamente a este álbum. Eva melhorou a forma como dropa, melhorou na composição, alterou a sua sonoridade e até a sua imagem. É justo dizer que a Eva elevou a fasquia do rap feminino.
O álbum traz um discurso maioritariamente de emancipação das mulheres, por diversas vezes a artista faz referências a mulheres independentes, mulheres que não precisam de um homem que pague as suas contas pois batalham para terem o que é delas, impulsiona-as a atingirem os seus sonhos, independentemente da situação.
A música “Um Assobio Meu” é uma obra prima, espelha os problemas sociais que o nosso país vive, abordado de uma forma pouco convencional. A voz de Gari Sinedima encaixou na perfeição no instrumental, só nos resta mesmo acompanhar o kota Teta Lando e mandar um assobio para o ar.
Outra música que merece destaque é certamente a faixa “Escolhida Para Vencer” com a participação da “morena de cá”. Uma homenagem às mulheres guerreiras e batalhadoras que fazem de tudo para manter o lar, como disse a Selda: “foste escolhida para vencer, levante a cabeça e sê mulher”. Por falar em Selda, o refrão desta música é de loucos, eu podia ficar os 3 minutos só com o refrão no loop.
A faixa “Está A Faltar” é dedicada ao rap angolano, Eva aponta o que na sua opinião falta no nosso rap: Mais emoção, mais inspiração… Falta coração. Nem foi preciso olhar para a ficha técnica para saber que o instrumental foi produzido pelo Dji Tafinha. O instrumental e… Deixa pra lá!
“Maria Tem Dono” é uma música fixe, um banger que fala dos homens que se atiram deliberadamente a outras mulheres, sem se importarem se estão acompanhadas ou não. Na verdade, a expressão “Maria Tem Dono” é que, na minha opinião, não me parece ser a mais apropriada. Percebo que seja uma expressão popular, mas para alguém que no decorrer do álbum defendeu e exaltou a posição das mulheres perante a sociedade, dizer que a Maria Tem Dono parece uma contradição ao seu discurso, como a própria artista referiu na música “Outra Espécie”, mulher não é objecto, logo, mulher não tem dono.
De uma forma geral, o álbum está agradável de se ouvir, Eva assentou muito bem nos instrumentais (acreditem, é verdade) e gostei muito do facto de as letras das músicas estarem incluídas no livro.
Numa escala de 0 a 10, eu daria nota 8, mesmo com as duas kizombadas que lá estão.
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