Para fechar 2019 com chave de ouro, um novo Versus está disponível. Os MCs para esta edição são pesos pesados nos seus países, vozes unânimes no RAP e activismo.
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Do Brasil vem Alex Pereira Barbosa aka MV Bill aka Tio Bill. Se nunca ouviu uma música de MV Bill, provavelmente não acompanha o RAP na lusofonia. O Rapper, Actor, Escritor e Activista Brasileiro, teve o seu primeiro álbum lançado em 1999, intitulado “Traficando Informação“, que contou com uma faixa polêmica, “Soldado do Morro“, que fez com que MV Bill fosse acusado de apologia ao crime. Alguns meses depois, a investigação ilibava MV Bill e concluía que a música era totalmente de intervenção social. O Brasil passou oficialmente a conhecer o “Mensageiro da Verdade” Bill.
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Em 2002 um dos melhores álbuns da lusofonia  foi lançado (quem discorda pode me marcar no twittter “@cognitivo“): “Declaração de Guerra“, foi um estrondo e deste álbum tiramos a música para o Versus de hoje.
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Só Deus Pode Me Julgar” tem uma combinação de instrumental, mensagem, atitude… impressionante!!! Não há como ouvir essa música e não prestar atenção. Uma música de intervenção com revolta e poesia em perfeita harmonia. As primeiras linhas de MV Bill nesta músicas são cativantes:
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Vai ser preciso muito mais pra me fazer recuar
Minha autoestima não é fácil de abaixar

Olhos abertos fixados no céu
Perguntando a Deus qual será o meu papel
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Durante praticamente 7 minutos Bill faz uma radiografia do Brasil, desde o sistema de distribuição de renda, desigualdade social, o tráfico de drogas e armas, racismo, a violência nas favelas… não há uma organização das linhas por blocos e temas, o autor “despeja” toda a sua raiva e indignação durante toda a música, com referências directas à factos que marcaram o Brasil na altura. Praticamente 18 anos depois, a música continua actual.
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Um clássico do RAP Brasileiro.
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Linhas Marcantes:
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Como pode ser tragédia a morte de um artista
E a morte de milhões, apenas uma estatística?

Fato realista de dentro do Brasil
Você que chorava lá no gueto ninguém te viu

Sem fantasiar, realidade dói
Segregação, menosprezo é o que destrói

A maioria é esquecida no barraco
Que ainda é algemado, extorquido e assassinado

Não é moda, quem pensa incomoda
Não morre pela droga, não vira massa de manobra”

Veja a letra completa

https://www.youtube.com/watch?v=dIbXjnaYDDo&feature=youtu.be

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Do outro lado está Katrogi Nhanga Lwamba AKA MCK.
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O nome mais sonante do RAP de intervenção em Angola, teve o seu primeiro álbum lançado em 2002. “Trincheira de Ideias” teve um alto impacto social, como o próprio MCK afirmou alguns anos depois “A minha carreira é premiada com perseguição política, intimidações e detenções“.
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Quem ouvir pela primeira vez o álbum de MCK, decerto ficou a se questionar: de onde esse “rapaz” tirou essa coragem?!
Denúncias, questionamentos à governantes, relatos das dificuldade a população, de peito aberto!
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Mas a música escolhida para o Versus não vem do primeiro álbum, mas sim de um single lançado em 2012. “Cadáver Andante” traz um instrumental produzido por Flagelo Urbano e as denúncias de MCK.
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As primeiras linhas são servem de apresentação ao MC Angolano originário do Chabá.
Eu sou o oitavo do agregado
Filho de camponês
Mãe solteira, bastardo
Eu sou um escravo assalariado
Preto da favela, pobre segregado
Katro traz a sua realidade para os ouvidos do público. Traz a realidade do seu bairro, a realidade da cidade, a realidade do país. O MC Angolano fala das perseguições e das tentativas de suborno. Associa a sua perseverança à uma força divina. Tal como Bill, MCK assume que os homens falharam e Deus lhe manteve com a cabeça erguida até agora.
Linhas Marcantes:
Conheço o inferno, já estive lá
Bairro Margoso AKA Chabá
Não há creche, colégio, Mesada e babá
Naquele fim do mundo Jesus é Jabá
Pobreza é escola, te ensina a viver
Essa e a regra, matar ou morrer
Makarov na cintura, bula no bolso
Proibido errar, a vida não traz esboço


Cognitivo

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