Entrevista um tanto antiga[5 anos atrás], mas mesmo assim não deixou de ser interessante.

Ikonoklasta falando um pouco de si, do seu Rap, do beef que teve com Raf Tag e outras cenas mais…

Peguei a cena no blog CabMusic, mas já havia lido ela a muito tempo no site Hipflickz.net, que acreditou eu que foi o primeiro site de HipHop angolano

Mesmo sem receber actualizações, visitava a cena e ainda me rendeu alguns posts, mas infelizmente neste momento o site encontra-se fora do ar.
Espero que a cena volte, e dê a volta por cima…

Brigadeiro Matafrakuxz

Label: Matarroa

Data: 19/08/2004

Hipflickz– A primeira pergunta, que acredito que ja muitos gostariam de saber, porque Brigadeiro Matafrakuxz?

Brigadeiro Matafrakuxz – Foi o nome que me ocorreu quando decidi escolher um nome em português ao invés do outro que tinha na língua de shakespeare. Estava a escrever uma letra de apresentação e lançamento da minha carreira solo, e quando chegou a altura de dizer o nome, foi esse que me ocorreu.


Hf– Além de Brigadeiro, tens outros pseudonimos tais como Ikonoklasta e Nkwa NKobanza, aonde surge a ideia dos outros nomes?

B M – Na altura que escolhi Brigadeiro Matafrakuxz era um mc com rimas fundamentalmente de combate, mas não tardou muito a sentir-me limitado pelo nome, quando a temática das músicas era mais séria, mais introspectiva. Achei que não casaria muito bem o tema do Sentença à Nascença que abordei de uma forma melancólica com um nome tão agressivo como Matafrakuxz. E daí saíu a idéia de uma personalidade para cada tipo de abordagem. Assim o Matafrakuxz faz o que sempre fez, Nkwa Kobanza é a personagem mais introspectiva, 1000iSegundo o contador de histórias e estórietas e Ikonoklasta é o nome que engloba todos os outros, se tivesse que escolher um só que resume todos os outros, seria Ikonoklasta. Também porque não me agrada a idéia de ficar preso a um nome, já basta o de registo.


Hf– Quando começa a sua paixão pelo hip hop?

B M– Em 1994.


Hf– -Foste membro do projecto Abxtrato? Gostarias de explicar aos nossos leitores, sobre este projecto?

B M– Gostaria sim. NUNCA fiz parte dos Abxtrato. Fiz parte dos Annonymaz, mas saí do grupo na altura em que o Digga foi indexado definitivamente como membro permanente. Já não participei na 3ª música que o grupo lançou, porque aí já tinha optado pela via solo. Pouco depois bazei do país. Quando regressei, já encontrei os Abxtrato formados e com várias músicas gravadas, e passavamos algumas tardes todos juntos na cave do NK, onde se faziam os sons. Mas daí a ter pertencido ao grupo ainda vai um saltinho e nunca aconteceu (se prestares atenção ao meu primeiro som oficial “O Regresso do Soldado” eu digo: “…Brigadeiro Matafrakuxz E Abxtrato…” como duas entidades separadas portanto).


Hf– – Fale-nos do Conjunto Ngonguenha. Quando e como o grupo surgiu?

B M– O Conjunto Ngonguenha foi talvez a melhor coisa que me aconteceu na minha “carreira”, por todas razões e nenhuma. Aconteceu tão naturalmente que mal demos conta que estavamos no processo de criação de algo que veio a ter a dimensão da Ngonguenhação. Surgiu de uma conversa entre 4 amigos (L, Mayanda, Conductor e eu) via net, e sabendo que haveríamos de estar os 4 no mesmo sítio durante pouco mais de um mês (junho de 2002), combinámos gravar um som ou dois, mas depois as idéias começaram a suceder-se em catadupa e chegámos a conclusão que deveríamos gravar um álbum. Visto as coisas terem encaixado e ter havido um empenho equitativo e profundo por parte de nós os 4 (o que raramente acontece não é? Há sempre quem esteja mais empenhado e quem faça um projecto morrer por falta dele) o Conductor dedicou-se ao máximo às bases (bitis), e nós, os restantes, às letras, e tudo encaixou perfeitamente, porque quando nos encontramos em Portugal, foi só mesmo gravar. Foi um processo muito bonito do qual guardo as melhores recordações.



Hf– Eras um colaborador activo do site dos Provisorios. O site parece ter morrido, que foi que aconteceu com o projecto?

B M– Isso terás de perguntar ao criador e cabeça do sítio, o Mário Pinho.


Hf– – Quem conhece o Brigadeiro, sabe o poder lirico que possuis para vertente dos disses. O circuito angolano tem sido constantemente bombardeado por trocas de disses entre ti e o Raf Tag, gostarias de explicar ao pessoal aonde tudo comecou?

B M-Eu vou dar o meu ponto de vista, mas logicamente posso estar enganado quanto ao momento exacto em que tudo começou. O Raf queria conhecer-me, andava a dar a dika ao Mck para proporcionar a apresentação. No dia que isso aconteceu (sem intervenção do K ao fim), acho que ele não ficou um bocado desiludido com a forma como lidei com ele. A situação em que isso aconteceu também foi um pouco constrangedora e um bocado deslocada. Foi no dia depois do ano novo, eu estava a realizar um trabalho de voluntariado (recolha de lixo) ao longo da costa habitada da ilha do Mussulo, e ele apareceu com bwé de avilos dele, e apresentou-se, seguindo logo com uma observação meio desdenhosa do trabalho que eu estava a fazer. Isso foi o suficiente para me deixar uma má impressão dele e fui um pouco frio a lidar com ele, a responder-lhe com frases curtas. Acho que tudo começou a borbulhar aí. Mas a gasolina da fogueira foi mesmo a crítica que fiz ao EP dele com o Samurai (ISHING), ele não gostou muito e apartir daí começou a atacar-me. Fez uns dois ou três sons dedicados à minha pessoa, e o meu nome tava sempre na boca dele, até ouvi dizer que ele iria fazer uma cena do estilo que fez a um outro grupo com quem teve altercações….tipo um álbum com 11 faixas e sempre o mesmo beat e todas dedicadas ao grupo, não me recordo bem do nome… UNOCZAR acho eu. Eu hesitei, mas acabei por decidir fazer a RAFeira TAGarela numa desportiva, a vêr se ainda tinha as minhas habilidades em dia, e também porque o Raf é considerado por muitos como o “melhor” dos rompimentos, assim fiz-lhe um pouco de concorrência e dei-lhe um bocado de corda também para ele poder falar de mim durante mais alguns anos. Mas na verdade, eu acho o Raf um desperdício de talento, eu acho que ele escreve fixe e tudo, mas as cenas que ele tem metido cá fora metem-me um coxe de pena. Respeito cada pessoa e a vertente que escolhem, mas o Raf idolatra o pessoal que ele tenta re-fabricar (Necro e o caraças), e perde alguns pontos na originalidade, afinal é o que a maioria faz… uns reconstroiem a versão angolana dos Jay-z, Nelly, Chingy e essas merdas, outros Dead Prez e Public Enemy e ele Necro e outros que tais. Se ele dedicasse mais tempo a conhecer-se e a fazer-se conhecer de certeza que deixaria de mesquinhices e de responder a disses de gajos que nunca ninguém sequer ouviu falar.

Hf– Tens participado em espetaculos ai?

B M– Muito raramente. Um por ano se tanto


Hf– Como encaras o hip hop tuga? É de fácil acesso, para musicos africanos?

B M– Não. De todo não. Basta analisar pelos álbuns de africanos que residem lá, e que raramente sequer mencionam África. Estão completamente fechados na cena deles, americana e francesa,
tudo o resto é medíocre ou podre. É por isso que pouco ou nada evoluem. A evolução para eles é estarem cada vez mais próximo em nível de produções aos americanos e tal como em Angola (aliás muito pior) 90% dos mc’s tão a querer imitar os seus artistas estrangeiros favoritos, e falam de realidades que não vivem. Alguns álbuns africanos têm referências positivas dentro daqueles que fazem hip hop mas essas referências nunca abrangem a COMUNIDADE, os ouvintes, os consumidores.


Hf– – Sugiram rumores que havia friccoes, entre ti e VRZ. Meses depois sai o disco do Conjunto Ngonguenha, pela Matarroa, label de VRZ. Tera tudo passado apenas de um mau intendido?

B M- A label não tem nada a ver. Eu podia não me dar bem com alguns membros da editora e mesmo assim lançar pela Matarroa. Houve de facto uma fase menos boa na minha relacção com o VRZ, mas são águas passadas, o tempo cura o maior dos males. Talvez por tê-lo perdoado não vá nunca receber o meu EP que está gravado desde 2001 eheh.


Hf– Lancaste a solo single Ola ignorancia, e Eu kontra o Mundo,estas a preparar algo mais serio serio??

B M– Não para já. Não me comecei a dedicar ainda a isso.


Hf– -O que e’ que os apreciadores das musicas do Brigadeiro podem esperar para 2005?

B M– Não sei. Acho que o álbum não está ainda para breve, mas vou continuar a participar nas cenas dos outros, tenho vários convites de pessoas que também admiro e vou continuar ocupado a escrever e a fazer música. Não sei também se será este ano, mas o XEG convidou-me para gravar um álbum, vai depender de como as coisas se vão enquadrar, os nossos tempos, as ideias, as bases (bitis).


Hf- Qual os artistas que gostarias de algum dia colaborar?

B M– Não me ocorre de momento. Neste momento trabalho com quem conheço, de quem gosto e com quem me identifico.


Hf– Queres deixar alguma ultima dica?comentario?shouts?

B M– A dika de sempre: é bom termos influências, mas mantenhamo-las isso… a nossa realidade não é igual a de nenhum dos nossos ídolos, cada país, cada região e as vezes mesmo cada aldeia têm as suas peculiaridades e singularidades, vamos explorar as nossas e sermos NÓS, não forçando a originalidade, mas sendo simplesmente NÓS!



Cenas Que Curto

CEO do site CenasQueCurto.Net