Esta é a revisão do texto que fiz sobre a história do Hip Hop em Angola, com o contributo de alguns tropas. Abrange o período de 1986 – 2000.
MC´S
O rap como música surgiu por volta de 90-92, muitos dos tais bailarinos de break dance se tornaram mcs. Onde começou o rap em Angola? Na cidade ou no musseque? Muitos iam dizer musseque! porque quase tudo de bom começa nesta franja da sociedade, mas no caso do rap foi diferente. Nasceu em “ilhas”, tanto na cidade como no musseque , a diferença é que os rappers da cidade suavam diferente devido o acesso à informação que tinham, essas ilhas se juntaram e se tornaram o arquipélago que é hoje o ” nosso rap”, não existe um grupo que representou melhor está união que os GC UNITY ou seja a união do gheto e a city( cidade) formado inicialmente por Prince Wadada, Gangsta Dú, Kool Klevar, este último vindo do palanca, onde também foi pioneiro do movimento com seu irmão António Bernardo Aka Atitude T, fundador do grupo Soldados de Rua com os gémeos brutalmente assassinados na África do Sul. Depois formou a Atitude Violenta com o Camacho aka Easy Iguala.
Ainda nessa altura surgiram os South Side Posse ou SSP que vindo da Alemanha se firmou em Angola com Emmanuel (Big Nelo) Rui (Kudy) e o Maneco depois o Paulo (Paul G), e finalmente o Adalberto (Jeff Brown) vindo de Cuba que mudou a sonoridade do grupo. Ainda com o Maneco o grupo lançou em 93-94 a música ”Olhos Café” que de resto virou Hino nas festas e na rádio, embora fosse um ragga o que era normal na altura, pois o rap ainda tinha muito das suas origens do reggae. Sem esquecer-se da Zona Kid com o hit ” Kilomba” os Wanderfull One e o Mestre Solobá todos estes fazedores de ragga.
Do Cassenda Vinha o Acção Positiva com o Vôvô, Passi, K Celso da Maianga além do SSP, vinha a Consciência de África com Mondlane e Afro Kett, De salientar que antes em 1986, nasce a companhia de Artes Horizonte Njinga Mbande de Adelino Caracol que, em 1990 ou 1992 realiza o primeiro show de Rap em Angola, onde pela primeira vez vi Nelboy Dastha Burtha aldrabar a plateia rapando em inglês que só ele pode explicar (risos). Nelboy Dastha Burtha, dono de um flow inconfundível o homem da “ disbunda da pesada” fundador da Masta Bustha Kastha (onde possivelmente alguém imitou o nome para formar a Masta K) onde saiu o grupo ZIP com Dabullz e outros, criador e apresentador do primeiro programa de rádio de rap em Angola o “rap cidade” foi o mais influente MC a solo na altura vindo de uma família de artistas como renomado músico Cândido Ananás, irmão de Walter, a tia poetisa Camguimbo Ananás.
Do cazenga vinha o Father Mac (Macunge filho) influenciado pelo tio que já era bailarino de break nos anos 80, Consciência Activa com Gansta Pick, Negrinilocas e Papanilson, Def Mú primeiro grupo a cantar rap em kimbundo, da Nocal o Moisés Aka Mutu Moxi. Do Rangel o lendário Black Buda com Kim Buda e Buda Beka Lekalo, Pobres 100 Culpa com Ngadiama Wakanbasonhe (Cláudio) e Mestre Nanhi Wamguimono o Gud como era conhecido na escola Ngola Mbandi, onde estudamos em 94 altura que entrei no movimento como grafiteiro influenciado por esses últimos.
A casa da Queen G foi ponto de encontro de MCs, nomes como Funk D arquitecto do movimento aqui e na tuga frequentavam a mesma casa.
O rap Americano foi a chama que acendeu o movimento aqui, por isso é que a maior parte dos pioneiros se não todos tem nomes em inglês ate que ouvimos um tal de “Gabriel o Pensador”, carioca de gema que mostrou que afinal podemos ter nomes em português, mas foi o álbum do também grupo Brasileiro Racionais MCs, “Raio x do Brasil“, que alimentou a chama, temas como “Fim de semana no parque” ” Racistas ot#rios” foram combustível para os mcs do ghetto, ao passo que o álbum de estreia de Gabriel o Pensador abalou as nossas estruturas, todos nós queríamos viver numa favela e eu nem sabia o que era (era puto risos). O álbum de estreia em Portugal “Rapública” foi cimentado por Angolanos como Helder Gonçalo Aka Funk D, Augusto Armada Aka Gutto, Makkas e outros como o Moçambicano Dinho aka General D, o luso cabo verdiano Boss AC, Madwilson Pina aka Bambino, KGB etc.
Ainda no Rangel tinha a Nina Harley das Damas conscientes, pioneira do rap feminino a par das Golosas e das Pensadoras de África. Do Rocha pinto vinha o Prolema sul onde trouxe ao sol o conhecido como primeiro MC do sul, e Kudibanguela com o nome do programa mítico da RNA. Do Palanca vinha Atitude Violenta (supra citado) que lançou em 94 um dos primeiros sucessos do rap nacional “A.V“, sem dúvida essa foi uma bomba para o movimento na altura, eu particularmente adolescente na altura fiquei arrepiado a ouvir a garra que o António Bernardo aka AT, tinha na altura e olha que ele era um magrinho daqueles (continua na mesma risos).
Também surgiram em 93 os Pretos Racionais, com Léo MC, Mano Kifwady etc. Sem esquecer o Xitukumulukumba, Kuntualua, Dikiliaba, Mano Tala, Hebo Imoxi, Keita mayanda, Adamouh, Diala kia kilunge, Mano Castro, Kuzoka, YPM, Nganga wa mbote, Cristo, Chipita, Vuvu Mamzambi, Wyma Nayobe, muitos deles fundadores da Ala Esquerda e depois denominada Ala Este, os Duplo V o primeiro grupo a usar a música Rap para uma campanha política no caso do mas velho “Chipenda” e os Afromen com Yanik e Mumú (já falecido). Esses e outros surgiram na primeira metade dos 90.
A segunda metade dos noventa é marcada por uma explosão demográfica de MCs, o movimento cresceu de forma majestosa graças em parte da influência positiva e negativa dos pioneiros, como por exemplo, em 96 o quarteto SSP lançou o primeiro disco do movimento em Angola intitulado 99% de Amor, duramente criticado pelos mcs, pelo conteúdo da maior parte das letras, mas verdade seja dita, abriram as portas para muitos, até porque tínhamos que começar nalgum sítio.
Este álbum continha o som “Amiga (R.I.P)”, primeira música gravada com beat box, o que normalmente só era utilizado em free style, já a letra era uma versão da aclamada música “Paula” dos GC UNITY outra musica duramente beefada pela nova vaga, rappers como Ikonoclasta, MC K, que era um dos rompedores renomados na altura até ser destronado do Alazheimer Rompe Rápido no “team elit”, NK dos anonimous lançaram o primeiro beef contra a velha escola, musica esta que chegou aos ouvidos graças ao programa de rádio “ Era do Hip hop” onde os mesmos eram apresentadores e colaboradores, Moisés Luis e Kessy Kelly levaram literalmente o rap nas costas ao lançar o “ nacional expresso” uma rubrica do programa FM expresso onde só tocava rap nacional.
Passamos a conhecer nomes como: Warrant B (segundo grupo a lançar disco), Tribo dos animais racionais, Abstractos, Polivalentes, Wave gang, Big squad, Clique LV, Young squad, Vila press, Makamba ya kid, Paulo cook, Movimento urbano, Reino suburbano, Inferno 9, Emoglobina, Positivos com vocabulários, Fortaleza neutra, Esquadrão 8, Cão leão, Oráculos, coligação 4 ever, VIP, Enigmáticos, Génesis, Absolutos, Provisório, Killer Rhymes, Sérgio gordo, Lawilca e o irmão, Imoglubina, Relatório anónimo, Sobrevivente, Salmos e ciência, Dona Kelly, GP, Girinha, Afrodit, Mad niggaz crew, Fortaleza 111, Maestros, Zona perigosa, Raph Thug um dos percursores do movimento horrorcore aliado uma vertente do rap até então pouco ou nada explorada, surgindo desta corrente MCs como Bob da rege sense que acabaria por se tornar um dos mais influentes rappers Angolanos na Diáspora, Shunuz, Patriarca, Caixa de pandora, Pechincha, Decaculo, Icno zar, BZB, RK100AP, Isidro Fortunato Xtigma, Jhon Jony, senhores do terror, Dapima entre outros.
Lista de alguns Rappers d’antigamente que se destacavam nos seus grupos pelas habilidades vocais (skill), métrica, etc:
Afroket – Konsciência d’Afrika
Kool Klever – GC Unity
Jeff Brown – SSP
K Celso-Açao Positiva
Nina Harley – Damas Conscientes
Mestre Nanhi Wanguimono – Pobres 100 Culpa
NK NKruman Santos – Anonimous
Leo MC – Pretos Racionais
Dabulz – ZIP (RIP)
Daniel Antonio Nelocas – Consciência Activa
Capitão – Tribo dos Animais Racionais
Atitude T- Soldados de Rua
Lil Jorge – Killer Rhymes
Sayen – MESS
Dr Flow – Big Bang
Ibra – Wave Gang
Dene xl – Imoglobina
Caporal – Wonderfull One
Rui Scott-d – Big Squad
Fredy – Fortaleza Neutra
Kwenha – Inferno 9
Nganga Wambote Alogica – Filhos da Ala Este
Moça- Click LV
Didi – Esquadrão 8
Kilimanjaro – Killa Hill
Sandokan- Army Squad
Tito Olivio – Koligaçao Forever
D.K. – Keima Roupa
KR – Virtuais MC’s
Zano Morango – Young Squad
Abdiel – Absolutos
Mister K – Enigmáticos
Action Nigga – Genesis
Kadaff – For Four Niggaz
MHCA – Raph Thug
Xtremo Signo- Icno zar
Rappers angolanos que fizeram sucessos na ou a partir da Diáspora:
Gutto,
Makkas,
Toy Cuba,
Das Primeiro,
Anonimous familly,
Nelboy Das Daburtha (o único rapper angolano a receber um diploma de MC das mãos do padrinho da cultura hip hop “ Afrika Bambaata”).
SSP (ganhou o prémio de melhor grupo da lusofonia, ganharam disco de prata em Moçambique, de ouro em Portugal, convidados especiais no festival de musica “Gamboa” e no maior festival de musica africana “Kora”)
Bruno de Castro (autor do hit minha terra morta no seu segundo álbum de originais, participou como rapper em álbuns de artistas como Ângelo Boss, Maya Cool).
aclamado Bob da rege sense (autor da aclamada musica a “Carta” onde se coloca no papel de Eduardo dos Santos a confessar supostos crimes cometidos era preciso muita coragem e bota coragem na coisa).
Lance lot,
Raptile,
God G,
Salvaterra,
Condutor,
Dene XL,
Cassetado,
Jamaika Poston (primeiro rapper a cantar em língua nacional e se percebia as rimas, não o primeiro a cantar em lingua nacional)
Mess,
Grand L,
Killa Hill,
Army squad,
Marita Venuz,
Male F,
NGA
ACTIVISTAS
Depois da chacina dos grandes activistas nos 27 de Maio de 1977, o sistema não imaginava que haveria de nascer jovens com coragem de manifestar e criticar o seu regime por intermédio da música e de uma cultura juvenil. Sempre acreditaram que fossem jovens frustrados com pouco sucesso na vida e que nossa luta daria em nada. Foi assim que surgiram os ativistas Cívicos do hip hop mwangolé, eram homens estudiosos, filósofos, com capacidade intelectual incrível fruto dos livros que liam e de homens como Martin Luther King Junior, Malcom X, Marc Graves, Sartre, Zamora, Pepetela, Karl Marx, os pan-africanistas Amílcar Cabral, Nkuame Krhuma, Steve Bico, Ailé Selassié. Dentre os ativistas cito o grande Dread Josef aka cota Catumbo que emprestou a sabedoria do movimento “Rasta fari” ao movimento hip hop com a lapiseira e o dom da palavra ensinou muita malta jovem (como eu na altura) e se tornou na bíblia do hip hop Angolano (ele ainda ta vivo podem procura-lo). Brother Kiluange outro rasta (tirou os dreds loks, deve ser o calor risos), exímio orador de voz forte biblioteca viva apresentador do programa “ poetica arte de rua” autor de documentários sobre o hip hop nacional, em 97 me emprestou um livro que falava do movimento na Tuga foi a primeira vez que vi as fotos dos meus heróis do “república”. DJ Gansta ou simplesmente Gansta dread loks (mas todos ativistas eram rasta ou usavam dread loks! Risos), orador fluente e influente, dono de uma discografia internacional impressionante, membro do quarteirão norte, cofundador do núcleo rap, cofundador da “UNIVERSIDADE HIP HOP” a maior organização activista do movimento em Angola de todos os tempos, Xitukumulukumba, Nghuma, Toy Ozone, Mwata, Shunuz, Patriarca, Xtigma, Kool Klevar, O grande e grande Miguel Neto com o seu programa de rádio RC no ar desde 94 e os espectáculos no largo da LAC deram voz aos oprimidos e silenciados pelo sistema. Moises Luis apresentador do nacional expresso e promotor do primeiro grande festival de hip hop nacional o ” FULL TIME“.
4 comentários
Bigboss · 6 de novembro de 2018 às 16:50
Tá de parabéns pela iniciativa Dom Samu
Helder · 22 de fevereiro de 2019 às 02:17
Alguem pode me arranjar musicas dos positivos com vacabulario???
Luciano Lubambi · 21 de dezembro de 2020 às 23:08
O movimento Hip Hop Angolano precisava ser documentado,finalmente já é!Valeu Dom Samu pelo contributo,a nova Geração Agradece assim como eu.
Tigre · 12 de julho de 2021 às 18:01
De louvar a iniciativa. Pelo que embora ainda faltando muita informação sobre grupos e passes daquela altura , está de parabéns mano????
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