132533468-b787b0cdcc5a6031b373566e89a33146.4c44ee08-full O Rap é norte-americano, periférico, raivoso. CABAL é brasileiro, de olhos verdes, central e combina ritmo e poesia com sentimento e melodia. Não dá para ser mais incongruente. Quer dizer: dá. Batizar um disco do gênero de AC/DC, ícone de tudo o que o Rap não é quando o assunto é música. E ele fez mais essa. E o fez muito bem.

Mais uma vez.

Pois CABAL é genial no Rap tanto pela originalidade quanto pelos caminhos que resolve seguir sem olhar pelo retrovisor. Enquanto muitos músicos ficam olhando a terra pela janela de casa, imaginando como está o pH para o plantio, elucubrando qual será o melhor momento para semear, CABAL vai lá, tratora e planta. Pois só assim um “branquelo” coloca a cabeça pra fora da caixa no Rap. Ou então em um filme do Eminem.

E vai além. Convida um jornalista nada acostumado a escrever sobre o assunto para rabiscar umas linhas a mais no caderninho de “AC/DC”, o disco. Nada mais apropriado. O botão de destruição é apertado. Vamos comigo.

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A viagem começa por “C. A. Bounce”, Rap pesado que mistura synths com guitarra, flertando com os anos 80 e lançando beijos para 2020.

O single (ao menos a música que traz mais evidentemente a palavra “de trabalho” estampada) vem na sequência, “Não Pare”. É funk e groove com baixo estalando o tímpano para que a explosão aconteça na pista. Já “Doce” tem BPM acelerado e participação vocal feminina de Ester Campos.

“…eu não tenho fãs, eu tenho sobrinhos (…) quer ver um show de verdade, então chama o Tio”, canta em repente em “Tio Cabal”. Aumenta o grave e a batida em “Eu Faço Isso”, quando coloca mais uma vez o dedo na fuça de quem estiver à frente.

Faz Assim” tem participação especial de DJ Milk e SevenLox , com rimas em “portuglish” em Rap melódico. “Menina Má” mostra outra vez o desembaraço do rapper, é pesadona a ode à menina que mora… na Zona Sul? No Capão? Não, em Moema.

Quando Eu Te Ligar” é ritmo e poesia puros, enquanto em “Até O Chão”, CABAL vai à mesa de som e gira o botão do grave em sentido horário até o 10, precisa de maior convite à pista?

O duelo da vida a dois está em “Eu Só”, no qual confronta Mel Ravasio, em mais uma participação especial de “AC/DC”. E a voz clássica (talvez a mais clássica) do Rap brasileiro invade o fone de ouvido em “Traz De Volta”, Thaide na área, junto com Bomba e Jacksom na reverência à era de ouro da São Bento.

Mundo Em Crise” é apocalipse poético, até a entrada de Martinho da Vila na inusitada “Vai Melhorar”, em que a voz do sambista ganha peso de bateria (e esta não é de samba).

O disco fecha melódico com “Sonhei Com Você” e “Linda Garota”, que tem como convidado Tony Williams (primo e backing vocal do Kanye West).

Tá bom? Não? Então volte à primeira faixa e comece tudo de novo, pois cada hora você percebe que perdeu um recado, uma batida, uma rima. “AC/DC” é (tudo) isso.

Por: luizcesar


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