O som que reflete os anseios de uma nova geração de artistas do Rap


Ontem

Todos sabem. No Brasil, durante muito tempo, a música electrónica ou o Rap feito para dançar sempre foram tidos como sons descartáveis, superficiais e símbolos musicados da dita “modinha”. Apesar da importância das equipes de baile na formação do Rap nacional, qualquer DJ ou MC que se dedicasse ao estilo pista e descontraído era criticado pelos artistas e militantes do Rap radical/consciente. Faces de um outro período, onde o discurso político era inserido em pleno contexto de desigualdade social.

Hoje

Actualmente, a situação económica e social não mudou muito, mas a globalização e o culto ao consumo, o avanço tecnológico, o fácil acesso aos financiamentos, a corrupção política e o fracasso da esquerda criaram uma juventude que, cansada das ideias politizadas, abraça outros valores. São cenas dos nossos dias: sem medo de expressar suas opiniões e frustrada com o Rap que retrata os caminhos e resultados trágicos do crime, parte significativa dos artistas brigam pelo direito de se divertir e não se preocupar com questões tão sérias. Esse fenômeno acontece em todos os estilos musicais populares do país, desde o pagode até melody, passando pelo forró, arrocha e os sons do chamado tecnobrega, reflexo de uma época que proporciona o comportamento festeiro e descomprometido.

Ano velho. Ano Novo

Em 2009, o pop Rap foi visto como salvador da pátria por parte do cenário. Hoje, muitos acreditam que essa é a fórmula para gerar um mercado brasileiro forte, alguns rappers afirmam que essa nova postura é uma espécie de evolução. O ano de 2010 está começando com uma vasta produção para as pistas da dança. São músicas com apelo pop, timbres que bombam nas FMs, vocais temperados com auto-tune, casos romanceados nas letras, amor, sexo, conquista, promessas e outras coisas que envolvem o relacionamento afetivo e as “peripécias financeiras” dos rappers, algo que remete aos grandes hits dos milionários norte-americanos do Rap e da black music que, de acordo com o discurso desses novos artistas brasileiros, ao contrário do Rap periférico dos 90, são sinônimos de vitória.



Sim, temos Rap pop

O Rap brasileiro precisa ampliar seu alcance? Sim. É pensando nisso que, num tom romântico, Cabal, veterano artista que alardeia o grande sucesso que será “AC/DC”, seu mais recente projeto, acaba de lançar a música “Linda Garota”, single produzido por Riztocrat, com participação de Tony Williams. Cabal é lider do Time Pro, uma banca de DJs e MCs que faz do Rap algo mais brando e acessível, conquistando adolescentes e adultos de diversas camadas sociais.

Thig, o polêmico ex-integrante do Relatos da Invasão, prepara novas músicas, vem como mais um representante dessa “nova era” e quer atrair mais mulheres para o Rap, assim como acontece no funk carioca. Don L, rapper do grupo Costa a Costa que está gravando um CD solo em parceria com DJ Hum, lançou “Não Para”, Rap dançante que foi um dos mais baixados em 2009. “Super X”, faixa título do álbum de WX, tem Cyber como produtor, um dos profissionais mais solicitados de 2009. É de Cyber o remix da música “Periguete”, do MC Papo, artista que enverada pelo raggaeton e tem quase quinhentas mil visitações no Youtube para a música “Radinho de Pilha”. Com malandragem, dirth south, sarcasmo e um pé no clube, o carioca/baiano Calibre MC é outro que representa essa geração, “Bar do Zé”, “Na Cabeça o Boné”, “Dinheiro e Mulher” são seus trabalhos mais conhecidos.


Verso Feminino

As mulheres não estão apenas como coadjuvantes nessa safra pop, Suppa Flá, MC membro da banca 7 Velas que está na cena desde 1999, já fez parcerias com Mr. Catra, com o grupo O Complo e La Méthode, rapper francês. Flá utiliza sensualidade e o universo clube como inspiração. Em outubro de 2009, Suppa Flá lançou o o videoclipe da música “Querem só me Olhar… Só Pioiá”. Quelynah, conhecida por sua participação no filme/série “Antônia”, segue a linha R&B com participações de MCs, com elegância, suas canções levam as relações afetivas para o centro da pista. Esses são apenas dois exemplos da participação feminina nesse mundo. O pop Rap vem com tudo em 2010, centenas de artistas apostam no estilo e a industria fonográfica pode reacender sua paixão por esse filão. Alguns artistas mais velhos na cena também colocaram suas cartas na mesa pop, o tempo mostrará o resultado. Isso não quer dizer que o estilo mais brando veio substituir as outras formas de Rap. DJs e MCs do Rap alternativo, gospel e político, novos e veteranos, continuam desenvolvendo sua arte. Sem harmonia, as diferentes vertentes coexistem.

Equilíbrio

Nos EUA e em parte da Europa, o mercado do Rap já está consolidado, formando uma cena forte que se renova e gera uma economia consistente. Os artistas e produtores brasileiros precisam aprender com os gringos, é necessario pesar os prós e os contras e, de maneira consciente, assimilar a parte boa de toda essa produção, para não descambar no discurso misógino dos rappers norte-americanos ou dos proibidões. Sabemos que o dinheiro cria novos valores e faz renascer velhos preconceitos. É preciso esperteza para os rappers daqui desenvolverem algo pop que fuja dos clichês, nesse caso, o samba pode ensinar muito. É prestar atenção.

Fonte: CentralHipHop.Com.Br


Cenas Que Curto

CEO do site CenasQueCurto.Net