Março é um mês de guerreiras, por isso trazemos para o Versus duas MCs bastante respeitadas na lusofonia.

Do Brasil vem Gizele Souza AKA Nega Gizza, a MC do Rio de Janeiro tem apenas um álbum lançado, mas o impacto das suas músicas não ficou esquecido. Nega Gizza é activista, envolvida em vários projectos para empoderamento feminino e melhoria das condições das favelas do Brasil.

A rapper é uma das fundadoras da CUFA (Central Única das Favelas), uma organização não governamental cuja forma de expressão predominante é o hip hop e que visa promover a produção cultural das favelas brasileiras, através de atividades envolvendo educação, desporto, cultura e cidadania. O seu único álbum foi lançado em 2002. Se ainda não ouviu o “Na Humildade”, não espere mais, as temáticas continuam actuais, até porque vários problemas pelos quais a autora lutava pra eliminar, persistem.

É deste álbum que extraímos a música para o “Versus” de hoje, “Filme de Terror” é a música em causa. Não se assustem com o título “Filme de terror”, ou melhor, podem ficar cheios de medo, é uma composição que vem denunciar o lado sombrio da nação alegre, o Brasil. Quem ouve a música pela primeira vez, ficará logo fascinado pelas primeiras linhas:

“País da democracia racial
Da mulata exportação, da beleza natural
Brasil ! nação feliz, um país tropical
País da pedofilia, futebol e carnaval”

A autora traz a sua visão sobre o país, sobre as coisas que vão mal e a sociedade insiste em ignorar. É uma música repleta de denúncias, desde racismo, pedofilia, tráfico de drogas… entre outros males que assolam a terra da “Ordem e Progresso”. Mais do que isso, Nega Gizza mostra a sua garra e pergunta o que ela precisa fazer para mudar esse quadro, indica o caminho para a mudança do país.

Versos marcantes:
O futuro é a fadiga, o passado é o fracasso
Obedeça , siga as regras e não dê nem mais um passo
Sua alteza dá esmola para os pobres depois foge
Não aceite, não concorde isso não pode
Vai rever sua nobreza vai gozar do paraíso
É o tom do animal, é o tom do inimigo
Tranca as grades dos castelos
Pinta a cara de seus filhos de verde e amarelo
Nos tratam como doentesSó porque não temos dentes
Passa a mão na minha cara , diz que sou inteligente
Tudo que eu não queria é morrer com indigente
Mas eles sobem no palanque e nos convence
Que tem pena da miséria dessa gente” || Veja a letra completa.
Música

https://youtu.be/Nkp_FWX_29E


Do outro lado temos Eva Alexandre AKA Eva Rap Diva, bastante conhecida pelo seu estilo frontal, Eva tem várias músicas de destaque e dois álbuns lançados. Quem acompanha a Rapper pelas entrevistas e segue os seus passos nas redes sociais, pode testemunhar que a mesma preocupa-se com as questões sociais e algumas letras. O destaque vai para “Um assobio meu“, um título inspirado em “Mumpiozo Ame” de Teta Lando. Nesta composição a autora não perde tempo e mostra a foto “secreta” de Angola: desemprego, alcoolismo, criminalidade, corrupção… vários males da nação, sintetizados em uma música.

A composição tem também motivação para a juventude e, mais importante, assume que a culpa é de todos, desde os estudantes, professores, polícias, governantes… todos têm a sua parcela de culpa, pois continuamos a “assobiar” perante as desigualdades sociais.

Eva Rap Diva

Versos marcantes:
Dizem que eu sou a foto que o turista não quer
Não mata mas fere, não vende, logo não serve
O bairro fede, com 10 um puto que já bebe
Faz greve no’stress leva vida de leve
Estradas em buracos travam o carro veloz
Gritamos alto mas ninguém quer ouvir essa voz
A dor que invade a dor é grande, a dor é grave
Enquanto o barrigudo manda vir um conhaque || Veja a letra completa.
Vídeo:


Cognitivo

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