O verdadeiro Tio Duas is back

Alguns anos depois volto a entrevistar Duas Caras, uma referência obrigatória quando se fala de Rap Moz, desta vez a pedido de um admirador seu, o jovem Nicolau Gabriel, residente na cidade de Maputo, fã confesso que na sequência de uma publicação que viu do Tio Duas anunciando o lançamento para breve do seu maxi single, teve a surpreendente ideia de fazer uma chamada internacional para mim Dino Cross (que encontro-me em Luanda), para pedir que entrevistasse Duas Caras de formas a conseguir ter mais informações sobre o álbum deste rapper a quem considera inacessível aos fãs.

“- Alô, Dino Cross, cumê tudo nice?

– ya nice e ai, firme?

– deste lado tudo bem, epah viste a publicação de Duas Caras?

– Não. Qual é a cena?

– O mano vai lançar um maxi-single, e como sei que já o entrevistaste uma vez, peço que o faças outra vez, queremos ter mais informações, Duas é maning inacessível, e eu sei que você vai conseguir”

O Nicolau tinha razão, eu consegui entrevistar o Herminio Vicente Chissano, de trinta e tal anos, de nome artístico Duas Caras, e com alguns aka (leia no plural por favor) com Tio Duas, Kara Boss, Mellow, Kara Mellow e alguns outros. Duas Caras é um pseudónimo que advém do facto de que na sua infância era um menino assanhado ou mal comportado na escola e em casa um santinho, é por unanimidade considerado um dos melhores rappers nascido em solo moçambicano, fazendo parte do top 3 na avaliação geral.

Blog Dino Cross: – Como te sentes com a atitude deste fã, que ligou para mim a pedir que te entrevistasse?

Duas Caras: Yo é sempre bom saber que há gente do outro lado, atenta ao meus moves, significa que ainda tenho alguma relevância, acho Eu; Agradeço ao pessoal que ligou.

BDC – As faixas que foram saindo depois do álbum Foreva, sentimos que a sua musicalidade foi afectada com a necessidade de estares fresh, quais foram as reações dos teus fãs que se identificam com um duas menos trap mais Boom bap?

DC: Depois do Foreva fiquei um pouco vulnerável, confesso, foi uma fase de pouca inspiração, o estúdio da gprO fechara as portas e cada um seguiu o seu rumo.

Nesse meio tempo dediquei-me a outras cenas fora da música e só gravei um jam em 2015 que foi “Dinda“, e porque sempre choviam chamadas de rappers para fazer uma collabo acabei fazendo algumas das quais até me arrependo.

Foi um time maning estranho pra mim, muitas inseguranças, mas passou! Em relação a sonoridade, eu sempre gramei de experimentar cenas novas mesmo que isso ponha em causa o meu status de legendary rapper, mesmo que perca uma dezena de seguidores, eu não sigo dogmas nem padrões, apenas o meu coração, e o meu histórico não deixa duvidas, já até fiz pandza (gargalhadas) e os meus fãs infelizmente terão de conviver com isso, é simplesmente como eu sou não ligo para criticas de redes sociais, nem as leio porque só te afectam quando o fazes. Geralmente faço um post e bazo.

Gpro ficou para historia nos manuais de uma geração distante

BDC: Duas Caras a solo outra vez, quando diz Gpro fechou as portas é a morte da label? 

DC: Gpro ficou para historia nos manuais de uma geração distante, Duas Caras is back com um projecto solo Chama se “O Homem Que Chegava Tarde“. É um maxi de cinco faixas, é um regresso as origens, o verdadeiro Tio duas.

Cenas Que Curto: Sentes que a GPRO podia ter ido bem mais longe que foi chegar ao status que alguns grupos que alcançaram na Lusofonia? 

DC: Sem duvidas bro, a gprO tinha qualidade pra se estabelecer a nível lusófono temos consciência de que a nossa musica chegou muito mais longe do que esperávamos e isso é óptimo, alias  naquela altura era tudo o que importava pra nós, éramos putos mas naturalmente as coisas mudaram a medida que fomos crescendo as necessidades pessoais, os egos, influências de terceiros são quase sempre o motivo da extinção de grandes grupos mas sem drama, colocamos Moçambique no mapa e pavimentamos a estrada pra outras gerações, isso é mais importante.

O diabo testou-me e eu cedi muitas vezes…

CQC: Em algum momento não sentiste que o teu talento era muito grande para um mercado como o Moçambicano? Achas que a falta de estratégia para alcançar outros mercados (Angola, Portugal…) não levou com que tivesses o teu nome bem mais abaixo, se calhar do merecido, na lista das Lendas do Rap em Português?

DC: Bem, eu não sou maning religioso, mas sou crente ao meu estilo e cada vez mais acredito mais que o trabalho árduo desagua na sorte. Infelizmente faltou-me alguma tenacidade em momentos cruciais, o diabo testou-me e eu cedi muitas vezes, mas “it is what it is A loss ain’t a loss is a lesson“. Se não cheguei lá foi pelas escolhas que fiz, mas ainda dou carolos nos miúdos quando estou disposto eles sabem hehe, e os títulos também não me importam muito, na pratica não valem muito, são apenas isso, títulos.

CQC: Que rapper hoje passa a melhor imagem do que achas o ideal para o Rap Moçambicano?

DC: Acho que o Laylizzy e Os Primos são uma boa projecção de como deveríamos ter sido, eles trabalham muito, em equipa, organizam os próprios shows são seus próprios patrões, gramo disso.

Espero lançar o Tondjemcee  e atirar a toalha nesse período…

BDC: Na entrevista anterior disse que chegou a interromper o andamento da gravação do Tondjemcee para voltar a Gpro, agora surges com a capa de um projecto novo e com um novo título. Tondjemcee já não sai?

DC: O Tondjemcee será  a minha aposentadoria.

CQC: O que se pode esperar do Tio Duas nos próximos tempos, passagem de testemunho ou dar “gás” a carreira?

DC: Ainda cuspirei por mais 5 anos provavelmente espero lançar o Tondjemcee  e atirar a toalha nesse período.

BDC: Mas para agora, essa capa quer dizer que teremos algo a sair em breve, o que tens a dizer?

DC: Como disse é um regresso as origens. Não tem nenhum trap, só barras de exibição e reflexão, com a previsão de lançamento para o dia 16 de Dezembro.


Cenas Que Curto

CEO do site CenasQueCurto.Net