Como será que reagiu o DJ Kool Herc quando soube da existência do Afrika Bambaataa? Como será que sentiu-se o Coke La Rock, tão simples na abordagem, quando The Sugarhill Gang pegaram no mic? Como será que The Sugarhill Gang aguentaram quando o Kool Moe Dee elevou a escrita e rebentou? Será que o Kool Moe Dee gostou quando o Grandmaster Flash & The Furious Five resolveram trazer a verdade dos guetos com o “The Message”? Terá sido fácil para o Grandmaster Flash & The Furious Five ter que engolir a energia e o b-boy style dos Run-D.M.C.? E os Run-D.M.C. quando ouviram pela primeira vez o LL Cool J, os Public Enemy, os Ultramagnetic MC’s e os Boogie Down Productions?
Como terá-se sentido esse povo todo quando o Eric B. & Rakim lançaram uma bomba atómica em 1987? O que dizer quando os N.W.A. tomaram o Rap de assalto? E o Marley Marl com a suprema Juice Crew? Toma lá os EPMD… wuaaauuu De La Soul… daaammm A Tribe Called Quest. Será que os pioneiros aplaudiram quando os Cypress Hill implantaram a cultura do cannabis no Rap? Será que eles sentiram-se bem quando o Dr. Dre em 1992 trouxe ao mundo uma nova estrela liambada chamada Snoop Doggy Dogg? Não consigo esquecer os beats do Large Professor nos Main Source.
O que dizer daquele som cru, sem qualidade e ameaçador nascido das entranhas do underground que os Wu-Tang Clan trouxeram? Onyx, Nas, The Notorious B.I.G., Digable Planets, Artifacts, Organized Konfusion, Das EFX, Fu-Schnickens, Lords of the Underground… e quando os OutKast viraram os ouvidos para o sul? Os beats do Timbaland… o Big L, Big Punisher aaaiii. Mesmo a sério fiquei tonto quando o Kool Keith resolveu transformar-se no Dr. Octagon… e quando o Puff Daddy solidificou o seu sucesso e começou a fazer o Rap perder a sua essência de rua e a torna-lo mais e mais materialista e dançante? Nessa altura os Brooklyn Academy, Arsonists, Canibus, Black Star, All Natural, Jedi Mind Tricks, Binary Star, Demigodz, MF Doom, Aesop Rock, Madlib e os meus heróis Company Flow e Non Phixion faziam maravilhas para quem gostava do Rap do subsolo… ao mesmo tempo em que o Masta P e a No Limit mesmo sendo chamados de wacks tavam a vender mais do que todo mundo, doeu? O crunk do Lil Jon ainda toca na rádio? O bling bling do Baby e da Cash Money ainda brilha? O Nelly que era um granda chato irritante ainda usa aquela curita na cara?
Depois os samples voltaram ao Rap comercial com o Kanye West e o Just Blaze… avançando um pouco… Drake…. Migos e Chief Keef baaahhhf… Young Thug e Desiigner… A$AP Rocky, Joey Bada$$, são tantos… o Kendrick Lamar e o J Cole são os preferidos de muitos… mas eu solto um grande sorriso ao ouvir o Big K.R.I.T., The Doppelgangaz e o Danny Brown.
Claro que poderia ter escolhido e estar a falar sobre as diferentes escolas de Angola, mas infelizmente não tenho matéria, acesso ou projectos em mãos do que foi feito antes de 1999.
Isso tudo só para dizer-vos, consciencializem-se que NINGUÉM VIRÁ SALVAR O HIP-HOP ou seja, O RAP NUNCA VOLTARÁ A SER O MESMO e nem tem que voltar a sê-lo, até porque ele nunca foi o mesmo durante muito tempo, ele sempre mudou de cara e de corpo constantemente, dando lugar a tudo e todos, nunca teve preconceitos (esses sempre tiveram na cabeça das pessoas), nem tão pouco teve preso as tais de ideologias rígidas ou dogmas estáticos e imutáveis que uns quantos inconformados por não conseguirem implantar-lhe a sua agenda pessoal e ditadura defendem por aí.
Não gostas do que faz-se hoje? Então cria o teu grupinho elitista de amigos restrito e fiquem por lá a ouvir a era com a qual mais identificam-se, comprem material e façam o Rap com a estética que mais amam… mas dentro disso, saibam respeitar que o Rap apesar de já estar nos 40, ainda continua a ser uma música jovem e rebelde que está em constante transformação, então o hoje nunca será o amanhã, se é bom ou é mau? Depende de quem o vê (ouve), mas certamente que se o Rap ainda fosse o mesmo, então não teria sobrevivido até os dias de hoje.
Já agora, PARABÉNS PELOS 44 ANOS HIP-HOP!
Texto de: Raf Tag