Quando abri o meu Facebook e me deparei com uma fotografia divulgada pelo Vui Vui, anunciando o Projecto X, fiquei maravilhado. Kalibrados e Army Squad, dois dos maiores grupos de rap do nosso mercado juntos para um álbum, é das melhores coisas que podia ter acontecido.
Mesmo não lançando nada há já alguns anos, foi notória a repercussão que esta imagem teve nas redes sociais. Isto por si só foi um golpe de marketing muito bem executado, sites, blogs, canais de tvs e de rádio… Todo o mundo andou/anda atrás do Projecto X para uma eventual entrevista e assim sabermos mais detalhes sobre esta fusão.
Na passada 3ª feira, dia 29 de Novembro, estreou no programa televisivo Zap Viva a primeira música promocional do projecto (assista no vídeo abaixo), num beat “estúpido” com os integrantes a dispararem punchlines para todos os cantos. Ficou visível que algumas barras foram direccionadas para a Força Suprema e eu pensei comigo mesmo “Vui não leva desaforo pra casa, agora é que as coisas vão aquecer”.
Vamos lá esclarecer algumas coisas então.
Primeiro ponto, Sandocan não lança um álbum projecto há 6 anos e a última vez que ouvi o Kadaff é um projecto foi há 8 anos. Vui tem sido o mais activo de todos eles embora com pouca intensidade. Ainda assim, o anúncio deste projecto, sem música promocional, sem nada, gerou um buzz enorme no seio do movimento Hip Hop Angolano e não só (como já foi dito anteriormente). Ou seja, eles por si só já carregam um buzz enorme, fruto do trabalho que fizeram no passado e do respeito que conquistaram ao longo dos anos. Tudo isto para dizer que esta teoria de beefar para ganhar atenção, neste caso em particular, não se aplica.
Em segundo lugar, deixa-me esclarecer que eu gosto da Força Suprema, a história deles de superação é muito motivadora, acompanho os seus trabalhos e vibro com boa parte das suas músicas. Mandar linhas é normal neste rap game e a FS tem feito isso há já algum tempo. Maior parte delas são linhas abertas, mandam para o ar e alguém se sentirá ofendido (!A tirar do prato dos manos do Rap, R&B, Kuduro e Semba, todos, incluindo as lendas…! ou ainda “Concorrencia está a dar pena”), outras são bem mais directas e direccionadas (“Convencido, ser o NGA me kuia / Viram o que eu fiz aos rappers no remix do Aleluia?”).
Os gajos aqueceram o game, não tem como. Mas quem manda linhas tem que esperar ser respondido, é o tal direito de resposta. Ninguém é intocável, quando os Kalibrados cantaram “Quem Manda No Teu Block” estavam no auge, muitos rappers de Cabinda ao Cunene sentiram-se ofendidos com tamanha ousadia e decidiram responder. É assim que o rap game devia ser, mas em Angola não é bem assim.
Por último, há uma outra dica que pra mim não faz sentido: “Os niggas se uniram pra derrubar a Força Suprema”. Rachei de rir… Projecto X se uniu para fazer música, acontece que numa das músicas tem algumas linhas direccionadas à Força Suprema. É um projecto musical, logo, acredito que terá pelo menos 10 músicas, eu não posso crer que essas pessoas acreditam que as 10 músicas serão direccionadas para o mesmo alvo. Há lugar no mercado para todos, isto não é a “jogo do trono”, a FS já lá está, quem mais quiser lá chegar é só fazer o seu trabalho, sem necessariamente derrubar terceiros.
Agora, convenhamos uma coisa, esta talvez não tenha sido uma boa jogada por parte do Projecto X. Se calhar não foi boa ideia utilizar esta música como promocional, teria mais impacto se o pessoal encontrasse a música enquanto ouvia o cd, uma espécie de surpresa… Não sei, é a visão que tenho agora, se calhar esperava-se que tivesse outro tipo de repercussão.
2 comentários
Rodrigo Rodrigues · 7 de dezembro de 2016 às 08:17
Eu sou obrigado a concordar com os primeiros dois pontos… e, comento-os num pequeno trecho: “Quando atacas os outros em hasta pública não te apoquentes com as repercussões alheias”. Todos achamos que todos os integrantes da Força Suprema auto-superaram-se mas, volta e volta-e-meia ouvimos nos seus versos beef’és atrás de beef’es que, mesmo sem resposta elevam à fasquia do conjunto. Não é justo com os integrantes do Projecto X quando se lhes é negado o direito à resposta.
Outrossim, discordo redondamente com a opinião de que não foi bom terem colocado esta faixa como promocional e que melhor seria descobrirmos ela entre as restantes músicas do CD… cada músico conhece até aonde pode arriscar, cada empreendedor (até porque a música também é um empreendimento e tem de ser bem gerida) sabe como atacar o mercado e alertar a concorrência. Não vejo porquê ser um erro meter todos à par da minha força, seja ela suprema ou não.
O mundo do Rap é assim e é disso que ele se alimenta, já passamos pelas divergências entre Underground e Mainstream; Rap’pers confessos e eternos e outros que se tornaram Outsider’s visitando e/ou se mantendo em outros estilos; vivemos até um momento meio confuso com o #Pastrana a intitular-se Rap’per e alguns se questionando como ou porquê… #PretoShow faz exactamente o mesmo, pra não dizer melhor, que os seus convivados na música #VouMatarLáUm e alguns se perguntam se também não é Rap; Pergunto-me eu: pra quê tanto alarido quando até os integrantes do Projecto X são por si mesmos marcas no Music Hall (ou sei lá como se escreve) angolano?
Esperemos pelo projecto, até porque Janeiro é já aqui na esquina.
Tatiano Ralph · 8 de dezembro de 2016 às 02:48
É complicado!
Entender os ouvintes e alguns criticos.
É muita falta de conhecimento na cabeça.
Desde quando é que Sandocan, Vui Vui, Killa Man e Kadaff precisam beefar para aparecerem?
Falta de saber tambem ja não é assim.
Assim se o Jeff Brown reaparecer com uma faixa a tocar na ferida dos que tão no activo tambem ta querer aparecer?
Shout Out ao Luis Aguiar e Mestre Cenas.
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