Artigo elaborado por Valete a um tempo, que achei interessantissimo e desde já aconselho-vos a ler…
Essa cena saiu mais ou menos na altura em que o vídeoclipe dele “Antí-Heroi” começou a passar na MTV, e o pessoal foi bombardeando, dizendo que ele havia mudado os seus principios.
Curtam a cena, muito bom artigo…

Tive acesso a um estudo de mercado sobre a música portuguesa e que certamente também foi consultado por várias editoras, rádios e canais de música. Nessa sondagem que abrangeu pessoas de classes, idades, ocupações, zonas, raças e sexos diferentes, o meu nome estava referenciado na categoria de HipHop, como um dos mc’s portugueses que gozava de maior preferência por parte do público. Para meu maior espanto, Halloween também estava nessa lista dos rappers mais “almejados”, estando até à frente de outros mc’s e grupos de HipHop com exposição massiva nas rádios e nos canais de televisão. Surpreendente e extraordinário porque o Halloween tem apenas um álbum editado, não tem nenhum clip a rodar nas televisões, nem nenhum som na playlist das rádios mais conhecidas.

Para a MTV, por exemplo, é fundamental conhecer esse tipo de estudos, e principalmente os resultados na categoria de HipHop, porque o HipHop para além de estar na moda também foi o estilo musical que nos últimos anos mais cresceu junto das comunidades jovens (publico alvo da MTV). Hoje mais do que nunca eles são forçados a ter HipHop na sua programação.

Um videoclip de uma música hardcore, áspera e subversiva como “Anti-Heroi” entra na Hitlist da MTV não porque se adapta aos modelos alegóricos do panorama audiovisual mainstream, mas sim, porque existe hoje uma agremiação grande de jovens que tem vindo a crescer com o “hiphop tuga” e que exerce uma pressão indirecta sobre estes centros de divulgação musical, obrigando-os aos poucos a transformar a sua grelha, e a passar também os artistas mais reconhecidos nas “ruas” em vez de só passarem os artistas formatados e impingidos pelas editoras majors.

Nesta altura em que no HipHop português já se notam vários vestígios de plastificação musical sustentada por editoras e pela comunicação social, é importante que os verdadeiros mc’s, e principalmente aqueles que têm uma mensagem mais interventiva e progressista usem o conceito “Pimp the System”. É importante que saibamos tirar proveito da “moda do HipHop” e destes espaços maiores de promoção de corporações multinacionais como a MTV, para disseminarmos a nossa ideologia e fazermos uma digna representação do HipHop. A ideia é: Revolucionar usando os meios do Sistema. Pimp the System.

Em diferentes alturas artistas não estandardizados como Dead Prez, The Roots, Common, Erykah Badu, Mos Def etc, conseguiram uma rotação significativa na MTV americana, chegando assim às massas e podendo assim educá-las politicamente, socialmente ou musicalmente. Eu próprio também fui alvo desse processo educativo. Hoje afirmo sem incertezas que eu seria uma pessoa totalmente diferente se nos anos 90 não fosse um espectador assíduo do “Yo MTV Raps” (falo do antigo “Yo”, não dessa patetice que dão agora). Aqueles clips, aqueles artistas, aquelas entrevistas, aquelas jam sessions causaram em mim uma mudança irreversível. Acredito que para melhor.

Por tudo isto, digo que é indispensável que promovamos as nossas músicas, usemos todos os canais possíveis, é necessário que cheguemos ao máximo número de pessoas, mas que não caiamos na armadilha de nos adaptarmos ao que eles querem que o HipHop seja. O HipHop somos nós e não o que eles querem que seja. É suicida promovermos a nossa cultura com o “basiquismo” à la Mundo Secreto. A música já está cheia de coisas iguais, coisas óbvias, coisas fáceis. A música está cheia de anti-arte. Vamos promover HipHop na MTV, na Sic Radical, na TVI onde quer que seja, mas com skills, com criatividade, com complexidade, com arte.

Vamos promover o HipHop com HipHop.


Cenas Que Curto

CEO do site CenasQueCurto.Net